Em um mundo cada vez mais conectado, a internet tem se tornado palco de novas possibilidades profissionais — muitas vezes fora dos padrões tradicionais.
Uma dessas possibilidades é a criação de conteúdo adulto. Longe de ser apenas um fenômeno digital, esse mercado tem mudado vidas, especialmente de mulheres que buscam autonomia e estabilidade financeira.
É o caso de Isa, de 29 anos moradora de Caçador, Santa Catarina, que encontrou na plataforma Privacy uma forma de recomeçar.
Isa contou sua história para a reportagem do Portal Vvale, relatando detalhes de como foi começar no mundo virtual.

A história dela começa como tantas outras marcadas por desafios pessoais.
“Eu tive uma decepção amorosa muito forte. Estava sozinha com meu bebê de sete meses, emocionalmente abalada, sem chão”, conta. Sem emprego fixo e com um filho pequeno, ela viu no trabalho online uma chance de virar o jogo.
Foi então que lembrou de uma amiga que havia mencionado a criação de conteúdo adulto e, após uma tentativa frustrada no OnlyFans — por conta das dificuldades com a plataforma em inglês e pagamentos em dólar —, ela encontrou o Privacy, voltado para o público da América Latina.
“Achei o site no Google, fiz meu cadastro, mandei os documentos e no mesmo dia estava tudo aprovado. Fiquei surpresa com a facilidade”, relembra.

Primeiras vendas, aprendizados e julgamentos
Mesmo sem ter alguém para guiá-la, Isa se dedicou a aprender tudo sozinha: desde configurar seus dados bancários até criar os primeiros conteúdos e entender como funcionava a divulgação. E o retorno veio rápido. “No mesmo dia da aprovação já comecei a postar e consegui minhas primeiras vendas através do Instagram”, conta.
O entusiasmo inicial, no entanto, foi freado por um obstáculo comum a quem vive em cidades pequenas: o julgamento social.
“Teve uma época que parei por causa da minha família. O preconceito das pessoas é muito forte, principalmente aqui no interior. Foi frustrante”, desabafa. “Se eu não tivesse parado, hoje estaria com o dobro de s.”
Apesar disso, Isa voltou à ativa e entende que o sucesso depende diretamente da sua dedicação. “Se eu posto e divulgo, eu vendo. Se não, nada acontece. Marketing é tudo. E isso vale pra qualquer negócio.”
“Eu tento manter uma média de um conteúdo por dia, porque não consigo estar o tempo todo produzindo. Cuido do meu bebê e agora voltei a morar com meus pais. Tem dias que é impossível criar algo. Já perdi s por isso, porque muitos acham que vamos estar online 24 horas por dia, o que não é a realidade.”
Ainda assim, ela afirma que o faturamento é bom e depende diretamente do esforço.

“Quando divulgo mais, ganho mais. Quando fiz parceria com outros criadores, aumentou muito. Vídeos mais leves, mostrando minha rotina, como banho ou skincare, também atraem s. Mas os que dão mais retorno são os vídeos mais íntimos, mesmo sem ser pornografia.”
Isa sabe que o conteúdo é só uma parte do trabalho. “Tem que saber divulgar. As meninas que estão no topo investem em marketing, estudam. Já assinei o conteúdo de algumas do top 10 só pra ver como elas fazem. É um negócio. E eu pretendo me aprimorar nisso.”
Ela sonha em colocar o filho na creche para ter mais tempo para se dedicar, estudar estratégias, produzir com mais qualidade e profissionalismo. “Não é só tirar foto. É entender o que o público quer, como divulgar, como prender a atenção. Eu quero crescer nisso, sim.”
Mesmo com limitações de tempo, Isa já vê resultados satisfatórios.
“Se hoje, sem conseguir me dedicar 100%, já estou conseguindo um bom retorno, imagina quando eu puder focar totalmente? Tenho certeza que vai ser ainda melhor.”

Entre a realidade e a curiosidade
Isa também destaca que o conteúdo que mais atrai s não é o produzido com superproduções, mas sim o que mostra a realidade. “É isso que vende: vídeos caseiros, momentos reais, sem muita produção. As pessoas querem ver o que não é mostrado nas redes sociais comuns.”
Ela enfatiza que trabalhar com conteúdo adulto não exige um padrão de beleza nem que a pessoa se exponha mais do que se sinta confortável. “Não precisa ser pornô. Pode ser uma foto sensual, um momento íntimo. Não tem regra. O que importa é como você se comunica com seu público e desperta a curiosidade.”
Os s também podem fazer pedidos personalizados, e cabe à criadora decidir se quer ou não atender. “Eles mandam sugestões no chat. A gente vê o que quer fazer, o que está disposta. Tem muito da nossa escolha e da nossa criatividade.”

Faturamento e liberdade
Os valores das s variam conforme a escolha da criadora, mas Isa percebe que o preço mais ível atrai mais pessoas. “O plano de R$19,90 é o que mais vende. Já testei aumentar pra R$30, R$25, mas quanto mais barato, mais volume. E é isso que gera lucro”, explica.
Atualmente, o Privacy se consolidou como uma alternativa ao OnlyFans para o público latino-americano.
Isa cita nomes conhecidos que também atuam na plataforma, como Andressa Urach e MC Mirella, mas reforça que o sucesso não está às celebridades. “Tenho amigas aqui perto, em Videira, que ganham R$12 mil, R$20 mil por mês. Elas dão a cara a tapa e postam todos os dias. O segredo é o empenho.”
Apesar de não se dedicar integralmente por conta da rotina com o filho, Isa afirma que o trabalho tem sido sua principal fonte de renda. “Não trabalho fora. Estou com meu bebê o tempo todo. E mesmo assim, consigo tirar um bom dinheiro. Isso me dá liberdade.”
Julgar é fácil. Empatia, nem sempre
Isa não nega que enfrenta preconceito, principalmente vivendo em uma cidade do interior.
“Tem gente que vai falar pra minha mãe: ‘olha o que a tua filha tá fazendo’. Isso é o mais constrangedor. Minha mãe nunca me repreendeu, mas é chato ter que lidar com gente de mente fechada.”
Ela prefere não alimentar o medo nem a vergonha. “Se um dia meu conteúdo for vazado, eu resolvo. Não fico vibrando nessa energia baixa. Já superei o pior, que é a exposição para familiares e o julgamento da cidade. O resto é detalhe.”
Sobre críticas e comentários maldosos, ela é clara: “Ignoro”.
“Não dá pra explicar livre-arbítrio pra todo mundo. Eu sigo trabalhando, crescendo, aprendendo.”